sábado, 21 de janeiro de 2012

A Rua Como Espaço Social




Escola básica feita para acolher, 200 crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico e 40 crianças do Jardim de Infância, desenvolve-se numa clara distância com a escola pré-existente do 2º e 3º Ciclo evidenciando a divisão que é feita entre duas fases de ensino e ao mesmo tempo fazendo a entrada de ambas as escolas e organizando os alunos em dois grupos.

Uma arquitectura de betão e madeira procura responder às necessidades educativas que o programa exige, há uma preocupação clara de criar um espaço social no sentido de criar um estimulo de aprendizagem nos alunos, ao procurar a ênfase do espaço comum.

Lêem-se dois corpos rectangulares unidos por um corredor, o espaço comum principal que funciona de certa forma como uma rua, remetendo a um pequeno espaço urbano. Da mesma forma que os miúdos brincam na rua, o espaço da escola é uma pequena cidade, onde se pode sentar nas escadas do corredor e conversar. A rua-corredor da escola, o espaço do

recreio oferece, quando o clima permite, um espaço de praça que varia

ritmadamente entre espaços cobertos e descobertos.

É fácil fazer um paralelismo entre esta escola e a ideologia de Hertzberger de “arquitectura social”, em que, por exemplo, a escola Montessori do mesmo reflecte bem.

Em ambas se aprofunda a ideia de cidade, do espaço urbano com a “rua-corredor” como espinha-dorsal do edifício, e a permissão desse espaço a usos vários, a sítio de brincadeiras e conversas assim como a rua da cidade que se permite a essas brincadeiras, colocando na periferia da escola, as salas de aula, acessíveis pelas “ruas secundárias” que são os corredores de acesso.



Hertzberger defende que o ensino não se passa apenas nas

salas de aula, passa também no exteriores na forma como este cativa os alunos na partilha, não só do espaço comum, mas de interesses comuns, na troca de experiencias e culturas entre si.

É desta forma que o espaço indefinido do corredor da escola de Leça do Balio se completa, uma rua principal que se ramifica em duas secundárias que se delimitam por portadas de vidro como se se extrapolassem para lá do que são os limites do edifício.

Tal ideologia proporciona-se mais claramente na escola Montessori, uma vez que se tratava de uma população de 56 nacionalidades diferentes e com problemas de integração, numa zona problemática de si, no entanto a mesma ideologia consegue aplicar-se na escola mas talvez não com a mesma força.

A cor no edifício, ainda que de presença subtil, procura criar um espaço menos institucional, mais informal, sendo que o laranja domina os corredores e portas de acesso à biblioteca e ginásio, o azul-escuro e cinzento nas salas de aula, juntamente com o betão e a organicidade da cortiça e da madeira “reforçam a identidade familiar do edifício, sólido, seguro, disponível e sem reservas para todas as vivências.” (in Memória Descritiva de aNC arquitectos)

O contacto entre estes dois materiais é algo que acompanha os usos programáticos do espaço. A madeira segue e desenha os espaços comuns sociais, as “ruas”, com relevância do corredor, no sentido de criar um ambiente mais acolhedor que juntamente com o entrave das escadas cria um momento de paragem e convívio como se propunha num sentido social “hertzbergiano”; e o betão cobre as salas de aula, o “construído” deste espaço urbano. Os materiais vêem reforçar este contacto entre dois tipos de ensino diferentes, o ensino da sala de aula e o ensino que é feito entre os próprios alunos, entre as “ruas” e o “construído”.








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