segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, 2008


Situado entre duas artérias importantes da cidade de Bragança, o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, obra do arquitecto Eduardo Souto de Moura, nasce da reconversão de uma antigo solar de século XVII num novo museu, que pretende tanto albergar algumas as obras da conceituada artista plástica Graça Morais, bem como exposições temporárias de outros artistas. Objectivamente, o Museu pretende sobretudo dar uma amostra do trabalho da pintora e fomentar o interesse pela arte contemporânea tanto aos habitantes da cidade, como aos seus visitantes, ampliando e fidelizando públicos interessados neste tipo de arte.


Inicialmente, esta obra surge com a vontade de interligar Zamora e Bragança, por forma a torná-los pólos culturais integrando-os assim nos roteiros culturais nacionais e internacionais. Próximo do centro histórico de Bragança, este edifício subdivide-se em três alas, sendo que duas delas são para exposições e uma outra que une as anteriores. Estas diferentes alas partem da relação que a pré-existência tem com o edifício construído de raiz, sendo que eles se unem através do volume com menos relevância do conjunto museológico, tornando-se este uma transição entre a zona de exposição permanente com a de exposições temporárias. A entrada principal do Museu faz-se através do edifício requalificado, e desde logo se percebe o modo como o arquitecto interveio neste espaço, através da simplificação dada a ele, à escolha de materiais muito próprios da arquitectura de Eduardo Souto de Moura, como por exemplo o alumínio das caixilharias e corrimões e o mármore polido do chão, causando logo à entrada uma certa frieza que não seria provavelmente a sensibilidade que o edifício solarengo causaria.


O espaço dedicado a Graça Morais está circunscrito ao antigo solar no piso superior, e aqui percebe-se a vontade do arquitecto em manter a traça original do antigo edifício, tanto que acabou mesmo por demolir alguns dos elementos estruturais que seriam posteriores à composição inicial da pré-existência. As salas onde a pintora expõe as suas obras, são de uma dimensão muito humana onde o branco predomina criando uma ambiência sóbria no espaço. Acolhedoras, estas zonas primam pela clareza e simplicidade, onde a luz é filtrada através de painéis translúcidos colocados nas janelas provocando uma luminosidade natural, atenuando a claridade dos espaços. Também a luz artificial apresenta uma certa delicadeza pois aparece numa estrutura elementar no tecto, desenhada intencionalmente para estas salas sendo pouco perceptível a sua presença. As telas de Graça Morais vão preenchendo as salas e à medida que se percorre a exposição, vai-se descobrindo a obra da pintora que sobressai no branco das paredes imaculadas.


Para ligar a pré-existência ao volume desenhado de raiz pelo arquitecto, vai-se percorrendo uma ala de exposições temporárias, e neste espaço sente-se que se está a fazer uma transição para um novo lugar, uma nova realidade. Isto sente-se através da diferença de materiais, relativamente aos utilizados na anterior ala e um pátio ajardinado que aparece como que para se respirar da atmosfera mais rígida que se vive dentro do Museu. A cobertura deste volume é também ela ajardinada, aparentando uma sensação para quem está dentro uma das outras alas de unidade entre o chão do pátio e esta cobertura. Contudo, estas duas zonas de vegetação apresentam-se distintas o que torna essa intenção menos bem conseguida e acaba mesmo por não ser intelegível essa uniformidade.




O volume monolítico da zona de exposições temporárias surge de forma imponente, marcando a sua presença no lugar. As suas aberturas voltam-se apenas para o pátio, formando assim uma fachada cega para a rua. Esta fachada causa logo impacto a quem percorre a rua a que o edifício está adjacente, pela sua vontade de se afirmar relativamente à envolvente confusa e desconcertante sendo que se trata de um volume puro e limpo, todo ele branco. O volume ancora-se à rua, dando a ideia de se estar a apoderar desta e fazendo com que se misturem de forma natural como que se a própria rua entra-se dentro do projecto de forma natural. Apesar disto, este acesso ao Museu não possui a relevância que lhe é devida pois na realidade acaba por ser apenas mais um acesso ao exterior como qualquer outro existente, e acaba por ser desorientador no entendimento do funcionamento do edifício. No seu interior, existe então uma grande sala de exposições com um pé direito bastante alto, contrariamente à ala de exposições temporárias, que deixa com que as obras expostas respirem.




A luz zenital aparece ao centro da sala, sendo o ponto principal de iluminação o que na verdade limita o alcance da luz a todo este espaço aberto, e faz com que a iluminação artificial seja crucial para a apreensão total das obras. Esta iluminação é tratada da mesma forma que no espaço da exposição permanente, com dispositivos próprios desenhados para este local específico. Toda a depuração e a falta de iluminação deste grande espaço, causam uma certa insensibilidade a esta sala até mesmo pela sua dimensão. Os outros espaços deste volume, são de relação com o pátio e com o volume pré-existente, espaços de descanso com mobiliário próprio que tentam apoiar de certa forma a sala principal.



Esta obra parte de uma relação entre dois edifícios principais, um pré-existente e outro criado de raiz e tenta com que estes se relacionem de forma clara e atenta. São dois volumes extremamente distintos e cada um deles se tenta afirmar de forma diferente, um pelas suas características intrínsecas do valor histórico que possui, e o outro pela sua afirmação na distinção e afirmação na sua envolvente próxima. É uma obra que prima pela lucidez e vontades explícitas que o arquitecto tinha em relação ao projecto. Apesar disto, o funcionamento do Museu acaba por ficar em alguns aspectos aquém do que parece querer ser, pois aí a clareza de certas opções de Eduardo Souto de Moura acabam por se perder.

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